A espelta é um
cereal ancestral, foi muito usada na produção de pão na Europa central até á Idade
Média. Contudo, este cereal caiu em desuso devido ao uso generalizado e
extensivo do trigo comum, modificado geneticamente de modo a obter culturas mais
produtivas. A espelta ficou assim resguardada de manipulações, mantendo as suas
caraterísticas nutricionais e estruturais originais, com um sabor característico
a frutos secos, ligeiramente doce e, devido á presença de glúten, é um
excelente substituto do trigo comum na panificação e pastelaria.
A espelta é um
cereal com variados benefícios nutricionais, nomeadamente, promove a produção
e manutenção de energia pelo organismo, nomeadamente na conversão de
proteínas, hidratos de carbono e gordura em energia que possa ser utilizada. Particularmente
indicada em casos de fadiga e cansaço constantes, mesmo a nível cerebral,
dado que o cérebro é um dos maiores consumidores de energia do corpo humano. A
elevada concentração das vitaminas do complexo B, nomeadamente vitamina B1
(0,36 mg/ 100 g), que também desempenha funções na manutenção da estrutura e
integridade das células cerebrais, vitamina B3 (6,83 mg/ 100 g), assim como os
minerais cobre, fósforo, magnésio e ferro, tornam a espelta um cereal de
eleição numa alimentação saudável.
De modo a manter a
saúde dos ossos e uma pele saudável, a espelta deve ser consumida
com frequência. O consumo de espelta fornece 25% das doses diárias recomendadas
de cobre, requerido para a produção de colagénio, uma proteína
estrutural fundamental. Para além disso, a espelta contém quantidades elevadas
de manganês (100 g fornecem mais de 100% da dose diária recomendada), um
mineral importante na formação óssea e na integridade da pele.
A presença de fósforo (401 mg/100 g de cereal), constituinte da estrutura
cristalina dos ossos, contribui não só para o desenvolvimento e estrutura óssea,
como é um fator fundamental na sinalização que controla o metabolismo ósseo.
Os benefícios da
espelta não ficam por aqui, este cereal possui um elevado poder antioxidante,
protegendo o organismo contra a ação nefasta de radicais livres, prevenindo
envelhecimento, danos celulares e inflamação. Isto é devido não só á presença da
vitamina B3, como ao mineral cobre, importante cofator de uma das enzimas
antioxidantes mais relevantes do organismo, e ainda pela presença do mineral
manganês, também importante cofator de enzimas antioxidantes.
Uma das vantagens
da espelta é o seu baixo valor em ácido fítico. O ácido fítico liga-se a
minerais como o cálcio, ferro e zinco e diminui a sua absorção pelo organismo ao
longo do intestino, particularmente importante numa alimentação baseada em
cereais, em que o teor de minerais absorvido pode ser comprometido. Sendo assim
ao utilizar a espelta, está a garantir uma maior absorção mineral pelo
organismo.
A espelta promove
uma boa digestão pela quantidade de fibra que apresenta (10,7
g / 100 g deste alimento). As fibras solúveis diminuem o tempo de absorção da
glicose e regulam a quantidade de colesterol absorvida pelo intestino. Aspeto
potenciado pelo manganês que promove o controlo de açúcar no sangue. A espelta é assim uma boa aliada no tratamento
da diabetes e manutenção dos níveis de colesterol
no organismo. Para além disso, as fibras insolúveis facilitam os movimentos
intestinais, funcionando como laxantes naturais. Como resultado, a espelta
combate a obstipação, as fibras ao acelerarem o transito intestinal, diminuem o
tempo de exposição da parede do colón a sustâncias tóxicas e consequentemente
promovem a desintoxicação do organismo.
A espelta (triticum spelta) pertence á mesma família do trigo comum (triticum aestivum) e como tal partilham diversas características, contudo a riqueza nutricional da espelta realça-se em alguns aspetos. A nível proteico apresenta maior quantidade do aminoácido cisteína quando comparada com outros cereais. A cisteína é importante na síntese de proteínas, impede a oxidação proteica, protegendo o organismo da reação de radicais livres, e participa em diversas funções metabólicas, nomeadamente na síntese de beta-queratina, a principal proteína da pele, unhas e cabelo. Comparativamente ao trigo comum, o aminoácido lisina presente na espelta é assimilado de forma mais eficaz, particularmente importante na produção de proteínas e proteção antioxidante. Para além disso, a espelta contém uma maior quantidade de proteínas em comparação ao trigo comum (14,6 g na espelta e 10,7 g no trigo/ 100 g de cereal), importante quando o aporte de proteínas é realizado apenas com base em fontes vegetais, ou quando se pretende o aumento de massa muscular.
É importante
realçar que a espelta contém glúten, e como tal, pessoas com
intolerância ou alergia ao glúten devem evitar este cereal. Contudo, alguns indivíduos
com sensibilidade moderada ao glúten parecem tolerar melhor este cereal
comparativamente ao trigo comum. O glúten é uma estrutura complexa, composta
essencialmente por proteínas, mas também hidratos de carbono e gordura. Cerca
de 85% destas proteínas consistem em gliadina (confere viscosidade) e glutenina
(elasticidade e estrutura para aguentar a forma), o trigo possui proporções
equilibradas destas proteínas, enquanto a espelta possui maior quantidade de
gliadina, o que torna o glúten mais frágil e, como tal, a espelta é mais fácil
de digerir pelo organismo.
COMO APROVEITAR OS BENEFÍCIOS DA
ESPELTA
A espelta pode ser utilizada
para variados fins, na verdade em qualquer confeção em que o trigo comum é
normalmente o cereal de eleição, portanto, sempre que o ingrediente farinha de
trigo entrar em ação, a espelta pode ser o seu substituto. Apesar de conter uma
proporção de glúten diferente, que lhe confere maior retenção de água, a
espelta é perfeitamente moldável e utilizável para a confeção de pão, contudo é
bom lembrar que amassar em demasia pode resultar numa massa quebradiça e que a
quantidade de líquido utilizada deve ser reduzida. Eu adoro cozinhar pão com espelta, vejam este PÃO DE ESPELTA E CENTEIO COM FERMENTO NATURAL, ou para uma ideia mais natalícia e um twist do tradicional vejam este BOLO REI DE ESPELTA E CENTEIO COM FERMENTO NATURAL. As aplicações da espelta são
variadas, desde bolos, panquecas, tartes e cremes. Para uma versão presente e surpreender alguém experimentem estes MUFFINS DE ESPELTA e optem pela opção que mais gostam, todas elas utilizam espelta. Finalmente para um bolinho caseiro com fruta da época e apenas farinha de espelta, BOLO DE LIMÃO E AZEITE.
De modo a obter todas os seus benefícios
nutricionais, é importante optar por espelta integral, contudo é possível misturar
a espelta integral e não-integral de modo a obter massas mais leves e fofas. Experimentem,
o sabor é realmente diferente e agradável e o nosso corpo agradece!
Referências:
https://fdc.nal.usda.gov/ National Nutrient Database for Standard Reference
O Livro do Pão, Ângela Silva, editora manuscrito
Que excelente conteúdo, super completo, gostei muito. Que falta que faz saber mais a fundo sobre o que comemos e aqui estas a fazer um trabalho excepcional ao trazeres-nos toda esta informação tão importante..é pena que nas nossas padarias não se vejam pães ou bolos de espelta...sendo assim toca a tentar fazer em casa :) porque vale a pena saber o que estamos a comer.
ResponderEliminarObrigada pelo teu apoio, sem ele não estaria aqui agora a escrever sobre aquilo que gosto e me faz sentir bem! Que bom que aquilo que gostamos pode ser útil e ajudar outros! Beijinho e obrigada
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